
Sinfonia da vida
- Rita Ephrem
- 4 de mar.
- 2 min de leitura

Nas entranhas dos corredores hospitalares, onde a dor e a esperança dançam em um delicado equilíbrio, tenho encontrado meu lugar como a mais jovem entre os rostos marcados pela aflição. Aos 29 anos, minha jornada de meses internada reverbera nos corações dos funcionários e enfermeiros, uma comoção diante da juventude entrelaçada ao sofrimento prolongado.
Antes de minha presença tornar-se uma constante nos corredores dos adultos, era na pediatria que eu habitava. Nesse universo, invertem-se as dinâmicas habituais: eu, a mais velha entre crianças que, desde os primeiros suspiros, lutam incansavelmente pela vida. Cada noite trazia consigo a melodia angustiante de gritos corredor afora. Mães, avós, famílias inteiras choravam e clamavam pela saúde de seus pequenos. Era uma sinfonia de aflições.
Internar-me na pediatria significava conviver diariamente com guerreiros mirins, enfrentando doenças neurodegenerativas, oncológicas e imunológicas. Uma dura realidade que desafia a compreensão da vida desde seu início. Essas crianças, esses bebês, eram presentes celestiais, desvelando uma verdade crua: a vida é uma dádiva efêmera, e cada respirar é um precioso fragmento temporal.
As madrugadas despertadas pelos lamentos daqueles que travavam suas últimas batalhas me ensinaram a verdade mais profunda: a vida é efêmera, e devemos saborear cada segundo. Num mundo que por vezes esquece sua própria fragilidade, estar rodeada por essas almas corajosas transformou meu olhar para a existência.
As crianças, os adolescentes, os bebês que cruzaram meu caminho durante as noites insones tornaram-se faróis, guiando-me para uma nova perspectiva de vida. A cada suspiro, a cada batida do coração, compreendi que a vida é um presente inestimável. Não precisamos testemunhar a morte iminente para reconhecer o valor da vida; podemos aprender com esses pequenos grandes mestres que enfrentam a adversidade desde o berço.
Essas crianças, essas famílias, são, para mim, uma dádiva celestial. Através delas, renasci para a preciosidade do agora. Não esperemos que a dor bata à porta para abraçar a maravilha que é viver. Enquanto temos a certeza do agora, abracemos cada segundo, aprendendo com os pequenos heróis que ensinam, mesmo no sofrimento, a verdadeira sinfonia da vida.
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