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O Cofre Verde

Eu estava internada no Líbano. Era uma das minhas primeiras internações no país e eu ainda não conhecia o sistema de saúde local nem a estrutura dos hospitais. O que sabia era que estava em um hospital-escola, referência na capital, e que, de certa forma, estava bem assistida.


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No pronto-socorro, aguardava uma vaga e já tinha recebido a confirmação de que o Ministério da Saúde libanês havia autorizado minha internação. Ufa, um alívio! Estávamos recomeçando a vida em outro país. Minha mãe não ganhava nem um salário mínimo completo, e o que eu tinha do meu trabalho mal cobria o transporte. Nos dias de “luxo”, conseguia comprar um lanche na faculdade.


Foram incontáveis as vezes em que passei mal e sabia que precisava ir ao hospital, mas não fui porque simplesmente não tinha como pagar. No Líbano, não há hospitais públicos, não existe SUS, nenhum sistema de saúde gratuito. Mas, desta vez, eu tinha conseguido a cobertura do Ministério da Saúde – ou pelo menos achávamos que sim.


Um novo mundo


Fui levada para o quarto e, por se tratar de um hospital particular, imaginei que teria um pouco de privacidade, talvez uma poltrona para minha mãe, um pouco de conforto. Mas, ao chegar, me deparei com uma companheira de quarto.


Os quartos são sempre compartilhados no Líbano – independente do hospital ou da condição financeira do paciente. Apenas aqueles com determinadas profissões, como médicos ou advogados registrados, têm direito a um quarto individual. Todos os demais, do rico ao pobre, do presidente ao feirante, compartilham o mesmo espaço.


Não vi problema nisso. Afinal, que mal haveria em dividir o quarto com alguém? Mas logo percebi que os libaneses são extremamente familiares e afetuosos. Quando entrei, minha companheira de quarto já tinha, no mínimo, 12 pessoas ao seu redor, e não parava de chegar mais gente.


Vizinha, filha da vizinha, conhecidos do bairro, o dono da feira da esquina, o filho do conhecido, o dono da farmácia… até estranhos que apenas tinham ouvido falar que ela estava doente apareciam para visitá-la.


Era um entra e sai sem fim – e só havia uma cadeira no quarto. Eu e minha mãe nos apertamos na cama e ficamos observando aquela cena. Víamos trocas de carinho, respeito, empatia, força e fé, mas até então ninguém tinha falado conosco. Tentei interagir, mas estavam sempre muito ocupados conversando e rindo juntos.


Ao final do dia, a filha da senhora enferma se aproximou. Perguntou nossos nomes e se interessou por nossa história. Quis saber se minha mãe passaria a noite comigo. Explicamos que éramos de outra cidade, bem distante do hospital, e que sim, minha mãe ficaria ao meu lado.


Foi então que ela perguntou:


— Mas onde sua mãe vai dormir? Não tem uma poltrona e nem ao menos um sofá!

Minha mãe sorriu, apontou para o chão e disse:


— Se for preciso, coloco um lençol e durmo aqui mesmo.

Óbvio que não aceitei e insisti que dividiríamos a cama. A moça ficou visivelmente sensibilizada, e ali começamos uma conversa que, sem que eu soubesse, se tornaria uma grande irmandade.


A senhora doente era um doce de pessoa. Uma guerreira. Um ser humano que marcou minha história de uma forma inimaginável.


O amor de uma avó que nunca conheci


Nunca conheci meus avós. Todos faleceram antes do meu nascimento. Mas ali, naquele quarto de hospital, Deus me deu a chance de saber como era ser cuidada por uma avó.


Os dias passaram, e aquela multidão que visitava minha companheira de quarto se tornou nossa família. Não parecia que estávamos em uma cidade distante de casa. Fomos acolhidos de maneira divina.


Até aí, parecia apenas um encontro bonito, uma família que nos abraçou. Mas lembrem-se: meu livro se chama Contos do Céu. Isso significa que toda história tem um detalhe divino que transforma cada encontro em algo além do destino.


E essa, definitivamente, não foi só uma coincidência.


O choque da realidade


Lembram que eu mencionei que minha internação estava coberta pelo Ministério da Saúde? Pois é. Conversa vai, conversa vem, descobrimos que, na realidade, o ministério cobria apenas 85% da internação.


Os outros 15% eram pagos pelo paciente.


Qual o problema?


Eu já estava internada há mais de 20 dias. Tinha feito inúmeros exames, tomado medicamentos, passado por consultas… e eu e minha mãe tínhamos apenas 15 dólares no bolso.


Como pagaríamos tudo?


Tentamos disfarçar o desespero, mas nossa nova amiga percebeu. Em poucos minutos, ela saiu do quarto, pediu para minha mãe ficar de olho na mãe dela, e voltou com um cofre de plástico verde.


— Toma! — disse, me entregando o cofre.

Olhei para ela sem entender nada. O cofre estava vazio. Peguei por educação e agradeci, mas minha expressão devia estar confusa, porque ela segurou minha mão e explicou:


— A partir de agora, todo mundo que entrar nesse quarto vai colocar dinheiro nesse cofre. Vocês vão conseguir tudo o que precisam.

Meu coração gelou. Eu? Pedir dinheiro? Nunca passei por isso! Como eu faria isso?


Como se lesse meus pensamentos, ela completou:


— Você não vai pedir nada. Eu mesma vou pegar o cofre e cobrar na entrada do quarto.

Fiquei em choque. Minha mãe ficou vermelha como um tomate e, com lágrimas nos olhos, me olhou sem saber o que dizer. Mas não tínhamos escolha.


Então olhei para nossa amiga e disse:


— Tia Fadia, eu confio em você e em Deus. Esse cofre verde vai salvar minha vida. Obrigada!

A partir daquele dia, ninguém entrava no quarto sem pagar um “pedágio”. Se saísse e voltasse, tinha que contribuir de novo. Moedas, notas pequenas, qualquer valor era bem-vindo.


E eu? Eu queria me esconder de vergonha.


Então olhei para nossa amiga e disse:


— Tia Fadia, eu confio em você e em Deus. Esse cofre verde vai salvar minha vida. Obrigada!

A partir daquele dia, ninguém entrava no quarto sem pagar um “pedágio”. Se saísse e voltasse, tinha que contribuir de novo. Moedas, notas pequenas, qualquer valor era bem-vindo.


E eu? Eu queria me esconder de vergonha. Mas, ao mesmo tempo, via naquela família um amor imenso pela minha vida, um cuidado gigante e uma empatia que só podia vir de Deus.


O Milagre


Chegou o dia da tão temida alta. Minha mãe foi até o caixa pegar a fatura. Voltou com os olhos cheios de lágrimas.


— Filha, precisamos pagar 300 dólares. Como vamos sair daqui?

Respirei fundo e respondi:


— Mãe, o cofre verde.

— Filha, as pessoas colocavam moedas! Não pode ter esse valor todo…

— Mãe, abre o cofre e conta. Deus não nos abandonaria.

Ela foi ao banheiro, abriu o cofre e começou a contar. 100, 200, 300… 350 dólares!


Voltou chorando, incrédula:


— Temos 365 dólares.

Pagamos a fatura, abastecemos o carro, e ainda paramos no McDonald’s para comer. Voltamos para casa, nos olhamos… e choramos.


Não eram necessárias palavras.


O cofre verde – ou melhor, um pedacinho do céu – salvou minha vida.


Queremos ver Deus se manifestar de maneira extraordinária. Mas Ele já está aqui, no irmão ao nosso lado, nas pequenas ações, no amor que transborda.


No cofre verde de um dólar. Ele estava lá

 
 
 

1 comentário


Dóris Camargo
Dóris Camargo
02 de fev.

Incrédula, Ritinha!!! Deus realmente não desampara ninguém!

Espero que esteja bem, na medida do possível! Orando por sua vida!

Ritinha, sempre que me encontro pessoalmente com você, me sinto motivada a mudar de vida!

Desde a última vez que eu vi você busquei mais a Deus e agora, por exemplo, estou com uma psicóloga nova que irá me ajudar na minha ansiedade!

Deus a abençoe grandemente!!!

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